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O silêncio ao redor

“O Som ao Redor” é o melhor filme brasileiro dos últimos tempos. Nele vemos abordado a injustiça social e a incomunicabilidade do mundo moderno

Rogério Cavalcante Castro*

O Brasil já definiu o seu representante pela disputa do Oscar. Será o filme 'O Som ao Redor', dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho. Ele concorreu com outros treze filmes nacionais, incluindo a superprodução global 'Gonzaga de pai para filho' que narra história de um ícone da música popular brasileira e que contou com um orçamento de mais de 12 milhões de reais. Mas o que este filme tem de  tão especial que vem conquistando prêmios em todo o mundo?

“O Som ao Redor” é o melhor filme brasileiro dos últimos tempos. Nele vemos abordado a injustiça social e a incomunicabilidade do mundo moderno, tudo na melhor linguagem cinética e ilustrado por uma trilha tensa. Seus efeitos sonoros se misturam às imagens de fortes silêncios, incomodando o público na poltrona que não desgruda o olho da tela, mais ainda nos pontos cegos da narrativa, onde a estranheza de algumas cenas te levam ao auge do suspense. Um susto que fica entre o pesadelo e a mais pura realidade.

Dividido em três partes, o filme te prepara para um ajuste de contas nas primeiras imagens. O principal silêncio é o da justiça, que obriga as próprias vítimas de uma tragédia familiar a irem atrás de vingança. Fechando um ciclo que há muito tempo, em nosso país, é rompido com brutalidade pela parte dos poderosos do campo.

A cerca é a primeira foto que vemos. Mas nesse prólogo nervoso, o som nos acompanha até um pátio de um prédio, também cercado, onde crianças e babás também são aprisionados pela luta de classes e pela falta de comunicação com a justiça social. E é nessa abertura que já nos adianta também, a maneira assustadora de contar essa história. O inexplicável se faz presente como uma pergunta retórica. Antes de abrir pra primeira parte, 'cães de guarda', um choque de automóveis nos surpreende. E não é à toa que está no plural, o título dessa parte, pois ao mesmo tempo que vemos uma dona de casa atormentada pelo cão do vizinho, temos também vários elementos pelo qual nos tornamos também cães de guarda de nós mesmos: câmeras, grades e...  guardas de rua. E isso não nos deixa mais felizes, muito menos tranquilos.

Exemplo disso é que o menino não consegue brincar com a bola, a moça passa pelo desconforto de um carro arrombado e a mesma dona de casa, usa vários elementos periféricos pra manter o controle do dia a dia: do som do Queen pra relaxar a um surpreendente momento com a lavadora de roupas.
Na segunda parte, que se intitula 'guardas noturnos', temos um dos momentos mais irônicos e ao mesmo tempo agressivo numa reunião de condomínio pra decidir o destino do porteiro do prédio. Ali vemos todo egoísmo que a cidade grande capitalista nos mergulha. A coisa é ao mesmo  tempo atroz e cotidiana, a ponto de ter uma criança como cúmplice da luta classista.

Enquanto nem eles mesmos conseguem se comunicar uns com os outros de forma harmoniosa, vemos aqui a outra utilidade da câmera de segurança dos prédios: cão de guarda.

O filme segue na terceira e última parte onde os sons de um cinema abandonado nos levam a uma cena bem poética, porém não menos estranha, seguindo para a mais simbólica da obra: a cachoeira de sangue. Daí para um dos finais mais sublimes da história do cinema é um pulo. O silêncio sufocante entre os pretendidos 'guarda-costas' e seu suposto 'contratador' é quebrado com um corte abrupto para a família unida contra o cão de guarda da primeira parte. É o cinema ao nosso redor.

 http://www.brasildefato.com.br/node/26223
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