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A curiosa psicologia do fake

O fenômeno mais verdadeiro da internet é o fake. Impossível não encontrar um fake a cada dia no twitter, no facebook, no e-mail ou num blog. Os fakes multiplicam-se, desaparecem estrategicamente, retornam e impõe a sua presença como uma verdade falsa indiscutível e indestrutível. O fake é pior do que um vírus. O fake é um falso que se torna mais verdadeiro por ter esse nome em inglês. Um verdadeiro fake não poderia ser chamado simplesmente de falso. Isso soaria fake. Quero dizer, falso. Ou seja, fake. Estou confuso. Serei um fake?
 
O interessante é pensar sobre a psicologia do fake. O que leva um individuo verdadeiro – de carne e osso – a inventar 47 nomes falsos para enviar suas mensagens a um mesmo alvo? Ódio? Falta do que fazer? Doença? Fixação? Bullying? Ter sido abusado sexualmente quando criança? Um cérebro de ervilha? Incapacidade de sair do armário? Obsessão ideológica? Mentalidade de psicopata? A tranquilidade do anonimato? A estupidez natural auxiliada pelo artificial? A psicologia do fake é um enigma. Todo fake é perigoso e inofensivo ao mesmo tempo. Tem fake que assume tantos nomes de ocasião que acaba por soar falso. Isto é, fake. Como identificar um fake? Pelo nome falso.
 
Tem gente que já possui fakes de estimação. Sempre que um sujeito chamado, por exemplo, Elisério Tomás, posta 37 comentários seguidos num blog, já se pode ter certeza: é um fake. O fake ataca quase todo tempo. Mas, se for barrado, ele voltará com outro nome – Eleutério Finamor – e só fará elogios durante 43 posts seguidos. Se barrado, o fake assume uma falsa retórica verdadeira:
 
– Estão me censurando. Querem que eu desenhe a verdade?
 
Para barrar os fakes é que os blogs estabelecem regras como não liberar comentários com palavrões, difamação, calúnia, injúria, insultos desmesurados e por aí vai. Os fakes, contudo, são ardilosos e falsificam o conteúdo do que dizem, adaptando-se as regras do jogo. Um mecanismo antifake cada vez mais usado é a recusa do bullying. Tem fake com ideias próprias. A maioria, porém, plagia. Entre os piores fakes estão os que passam a vida copiando e colando artigos de Reinaldo Azevedo, Merval Pereira e Olavo de Carvalho. Todo fake comete crime de falsidade ideológica. O mais grave, porém, é o crime de ser mala virtualmente em tempo real, irreal e surreal.
 
Há tratamento para fakes. Usa-se, em alguns países, um coquetel de medicamentos antipsicóticos. Em outros, alguns relhaços bastam. Em Palomas, os fakes são tratados como verdadeiros, o que os desmoraliza em praça pública. Todo fake é um coitado que, depois de ter adotado um novo nome e de ter disparado sua cacaca virtual, ri sozinho como se estivesse soluçando ou gozando sozinho no banheiro. Especialistas modernos explicam que os fakes não devem ser tratados como criminosos, mas como doentes.
 
– O que eu faço se encontrar um fake?
 
– Finja que ele é verdadeiro.
 
– Como assim?
 
– Trate-o pelo nome.
 
Por Juremir Machado
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=5286
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