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A busca da felicidade

Por Assis Ribeiro

O modelo atual de sociedade baseado no consumo desenfreado, na instantaneidade, no individualismo e na expectativa de satisfação sem limites tem provocado crises econômicas, sociais e psicológicas.
 
Com a repercussão da mídia de massa esse modelo se tornou tão hegemônico a ponto de se tornar quase impossível uma alternativa a ele. Criou-se um imaginário social, estilos de relacionamento pessoal, modos de construção de identidades, modalidades de agrupamento social, pautas de sentimentos e formas de sofrimento que seguimos bovinamente, sem reflexão, e que tem nos causado transtornos de várias espécies.

As imagens televisivas, os livros e as músicas de sucesso apresentam os ideais que nos servem de referência, que determinam os modelos que devemos aderir, as modalidades de prazer e de sofrimento que organizam nossa existência e expressam os traços fundamentais do mundo social em que vivemos. 

Tal modelo é causa e consequência do esvaziamento da política e da ação coletiva que são substituídas pelo pragmatismo político, pela espetacularização da vida social, a busca à performance e a prevalência do individualismo, gerando um mundo  fragmentado e como consequência o isolamento do próprio indivíduo que procura a qualquer custo ampliar a sua relação de “amigos” nas redes sociais e a sensação de vazio, medo e de não pertencimento.

A vida pessoal tornou-se uma guerra e tão cheia de estresse quanto nos campos de batalha e o próprio mercado com suas relações de consumo e compra nos pressiona incessantemente. Lutamos para sermos admirados, a competitividade nos dilacera e estamos sempre a nos bombardear com cobranças e como forma de defesa passamos a exercitar o individualismo nas suas formas extremas; o egoísmo e o narcisismo.

O cidadão torpedeado por informações antagônicas e destreinado a pensar e refletir na sociedade que implantou o imediatismo, a insatisfação e troca fácil no lugar de se consertar, acertar ou reparar – características do consumismo – termina por viver sempre em busca do “novo” que sempre substitua o algo anterior, o que nos leva a uma vida vazia (para que sempre caiba a possibilidade da substituição) e contraditória e ilusória (por nos levar a acreditar que o novo será melhor).

O sociólogo e pesquisador Zygmunt Bauman assim se refere à forma “líquida” da sociedade:

Essa condição é produzida dividindo-se a vida em episódios, ou seja, em fatias de tempo preferivelmente independentes e autossuficientes, cada uma com enredo, personagens e final próprios. Esse último requisito - o final - é alcançado se os personagens que atuam, ou sobre os quais se atua no curso do episódio, presumivelmente se engajam apenas pelo tempo de sua duração, sem compromisso de serem admitidos no episódio seguinte. Como cada episódio tem sua própria trama, cada qual precisa de um novo elenco. Um compromisso indefinido, interminável, limitaria seriamente a variedade de tramas disponíveis para os episódios subsequentes. Um compromisso indefinido e a busca da felicidade parecem conflitantes. Numa sociedade de consumidores, todos os laços e vínculos devem seguir o padrão da relação entre o comprador e as mercadorias que ele adquire: das mercadorias não se espera que abusem da hospitalidade, e elas devem deixar o palco da vida no momento em que comecem a perturbá-lo em vez de adorná-lo; dos compradores não se espera - nem estão eles dispostos a isso - que jurem fidelidade eterna às aquisições que trazem para casa.

É a vida exercida em episódios em que cada momento deve ser único e passageiro, onde a parte (cada momento) se torna mais importante do que o todo. É o mundo e pessoas fragmentadas em procura constante por situações diferentes (novas performances) que levam ao inconformismo e insatisfação por sempre ter algo a realizar ou representar e que nos traz os “sentimentos de vazio, isolamento e solidão” e  a “violência” como ...

Christian Ingo Lenz Dunker em um artigo no site da UOL descreve a sociedade atual:

O livro Cultura do narcisismo escrito por Christopher Lash em 1979 é um clássico. O autor descreve o modo de vida americano nos anos 70, retratando uma sociedade na qual a participação na esfera pública entrava em declínio e as pessoas enfrentavam dificuldades para reconhecer sua própria história. O livro é premonitório em vários sentidos: apresenta o horror à velhice, à feminilização da cultura, à autoridade burocrático-permissiva, à educação como mercadoria, à autopromoção por meio de “imagens de vitória” e ao paternalismo sem pai.

O texto de Lash mostra como o que era diagnosticado como patologia narcísica ou limítrofe nos anos 50 torna-se uma espécie de “normalidade compulsória” depois de duas décadas. Para que alguém seja considerado “bem-sucedido” é trivialmente esperado que manipule sua própria imagem como se fosse um personagem, com a consequente perda do sentimento de autenticidade, dramatizando a vida em forma de espetáculo, com o correlativo complexo de impostura ou olhar para o trabalho como se ele fosse uma maratona olímpica e, a pessoa, um herói predestinado.

Mas havia um capítulo subtraído da descrição de Lash ao qual o psicanalista Jurandir Freire Costa se refere, tendo em vista o caso brasileiro: a violência. Ao contrário do narcisismo americano que produzia sentimentos de vazio, isolamento e solidão, o narcisismo à brasileira é capaz de inverter inadvertidamente a docilidade em violência

A sociedade atual parece ter abraçado, junto com o consumismo, o hedonismo, doutrina caracterizada pela busca excessiva pelo prazer como propósito mais significante da vida; a busca incessante pelo prazer como bem supremo. Como o prazer dos sentidos seria o fundamento de todos os outros prazeres espirituais.

O aumento das insatisfações, das doenças físicas, depressão e tristeza, indicam que o modelo abraçado não está resolvendo ou indicando o melhor caminho para a felicidade.

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