Castaneda revela que justamente a ideia de cognição, num primeiro momento, foi seu maior obstáculo, pois, “como homem ocidental e erudito participava da ideia de que só existe cognição como um grupo de processos gerais”. Acrescenta, no entanto, que para seu mentor existe tanto a cognição do homem moderno como a dos xamãs do México antigo, sendo cada um deles mundos completos de vida cotidiana e intrinsecamente diferentes. Nesse contexto, revela que, a partir de um momento, que não consegue identificar precisamente, sua tarefa “mudou de mera coleta de dados antropológicos para a internalização de novos processos cognitivos”.
Como parte desses processos cognitivos, Castaneda relata que foi levado a aceitar a ideia de que é fundamental, para os seres humanos, compreender que o único fato que realmente importa é o que d. Juan chamou de “encontro com o infinito”. E isso ainda que seu próprio mentor tivesse dificuldades para reduzir essa expressão a algo mais inteligível. Ainda assim, como parte de seu aprendizado, ele diz ter aceitado o fato de que “somos seres a caminho da morte”, mesmo que isso não tenha qualquer relação com o conceito mórbido com que a morte é interpretada na cultura ocidental. Se vamos morrer – e essa é a única certeza de que dispomos – conclui Castaneda sob a lógica da cognição que incorporava, “a verdadeira luta do homem não é a disputa com seus semelhantes, mas com o infinito, o que não chega a ser luta, mas aquiescência”. Devemos voluntariamente nos submeter ao infinito “porque nossas vidas terminam exatamente onde se originaram: no infinito”, considera.
Carlos Castaneda mostra ainda que a maior parte dos processos que registrou em uma dúzia de livros, relatando cada etapa de seu aprendizado, esteve relacionada ao “intercâmbio natural de minha personalidade, de um ser socializado sob o impacto de novas racionalizações” e que, após certo tempo, suas resistências foram minadas.
O alicerce da cognição para os xamãs, segundo Castaneda, é o “fato energético”, o que significa que, para eles [os xamãs] “cada nuance do cosmos é uma expressão de energia”. Eles concebem que “o cosmos inteiro é composto de forças gêmeas que são, ao mesmo tempo, opostas e complementares: a energia animada e inanimada”. A energia inanimada, nesta concepção, não tem consciência.
Castaneda define consciência como “condição vibratória da energia animada”. A condição essencial da energia animada – orgânica ou inorgânica – segundo a linhagem de xamãs de seu mentor “é transformar a energia do universo como um todo em dados sensoriais”. No caso dos seres orgânicos, “esses dados sensoriais são transformados em um sistema de interpretação no qual a energia como um todo é classificada e há uma resposta designada para cada classificação, qualquer uma que possa ser”. Em contrapartida, para os seres inorgânicos, “os dados sensoriais devem ser interpretados por eles mesmos em qualquer que seja a forma incompreensível na qual possam fazê-lo”.
OVO DE LUZ
Castaneda sustenta em suas descrições que os seres humanos são percebidos pelos xamãs da linhagem de seu mentor como “conglomerados de campos de energia com a aparência de bolas luminosas”, e cada uma delas está “individualmente conectada a uma massa energética de proporções inconcebíveis que existe no universo, chamada mar escuro de consciência”. Um ponto específico, na altura das omoplatas, destaca-se nesse ovo luminoso, descreve Castaneda, e esse é o ponto de aglutinação. Segundo ele, o deslocamento desse ponto por onde os seres humanos recebem energia cósmica é o responsável pela alteração do padrão de consciência.
Outra categoria que emerge neste contexto, no quadro de ensinamentos que recebeu de seu mentor, é o intento, algo que ele define como equivalente a inteligência. Assim, a conclusão que integra o mundo cognitivo do seu sistema de aprendizado é a de um “universo de suprema inteligência”. Ainda neste caso, Castaneda esclarece que xamãs da linhagem de seu mentor, d. Juan Matus, “consideram consciência como o ato de estar deliberadamente consciente de todas as possibilidades perceptivas do homem e não apenas das possibilidades perceptivas ditadas por qualquer determinada cultura, cujo papel parece ser o de restringir a capacidade perceptiva de seus membros”.
Trecho do artigo:
http://www2.uol.com.br/
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