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Sobre Pinheirinho, Aldeia Maracanã, a desocupação do terreno do Jardim Iguatemi, e outros.


A sociedade tem debatido os vários movimentos sociais e políticas públicas que discutem as remoções de comunidades, agora com mais frequência com a acelerada do desenvolvimento e a vinda de grandes eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e a Copa das Confederações. 

Essas comunidades normalmente eram localizadas em regiões que, ao longo do tempo, tiveram enormes valorizações e passaram a ser objeto da cobiça dos que fazem da valorização imobiliária a fonte de seus fabulosos lucros, ou em novas áreas escolhidas para tais fins. 

Com o estreitamento das possibilidades de se abrirem novas áreas pela perda de espaço urbano, as atenções se voltam para os centros das cidades, outrora abandonadas, com projetos voltados para finalidades comerciais e não residenciais, alimentando ainda mais as localidades fantasmas.

Os centros das cidades têm muita história e vida, por isso devemos procurar alternativas que possibilitem o reequilíbrio das atividades locais, não sua substituição. Ainda que se deva priorizar o interesse público, a desapropriação e a demolição de prédios históricos devem ser sempre os últimos recursos: a via amplamente negociada, mantendo as atividades lícitas, a permanência dos seus antigos moradores, e a preservação das construções que contam a vida da cidade, é perfeitamente possível e desejável.

Os motivos alegados como o de favorecer a mobilidade urbana, preservar as populações em risco e a melhoria das condições de vida, mesmo que à revelia e contra a vontade dos próprios moradores da localidade, quase sempre se mostram um grande engodo.

Por outro lado, os métodos de desocupação são sempre os mesmos e com o objetivo claro de angariar apoio da classe média quando optam, ao não priorizarem a negociação ampla e partir para o confronto, por trazer a ideologia do medo para o centro das atenções e difundir a imagem de que as comunidades são violentas e causam riscos à sociedade.

Trata-se de um processo de higienização social e gentrificação com a denominação de “trazer a modernidade”, onde se busca criar uma homogeneidade a partir de ideias de fora da própria comunidade e longe dos debates públicos. São decisões de gabinete e longe das demandas sociais.

A elitização das proposições “públicas”esconde que o social é a base primária para a organização, o fortalecimento e o compartilhamento de qualquer cidade.

Esta forma de gerir a cidade encontra respaldo não só na enganosa propaganda da “modernidade”, como na retórica da “gestão”, que no Brasil passa por cima de conceitos até mais profundos como o do “planejamento” e respeito à população local. Tudo é pensado para justificar o deslocamento das populações para que se abram novos espaços para o “desenvolvimento”.

A corrida da especulação imobiliária chega ao ponto de projetos concebidos por empresas privadas serem “doados” aos órgãos públicos como ocorreu recentemente em Salvador com o “Projeto Nova Cidade Baixa”, assinado pelo escritório paulista Brasil Arquitetura, que informou que tal estudo foi encomendado pela “Fundação Baía Viva” de um grupo de empresários baianos "preocupados com a preservação do maior cartão postal da Bahia e marco representativo da História do Brasil: a Baía de Todos os Santos", conforme o site da entidade.

Os antigos moradores da Cidade Baixa se uniram com organizações sociais para questionar a “solução” apresentada para a localidade e tiveram apoio de um grande jornal local. O Ministério Público foi acionado e o projeto paralisado.

Nos processos de reurbanização das grandes cidades, populações são jogadas para a periferia, longe dos olhares e dos cuidados como saneamento, transportes, entre outros, e a história nos mostra o que pode acontecer com comunidades deslocadas para qualquer canto, sem os direitos que são conferidos às classes média e alta.

A ideia de inserir a mistura nas grandes cidades com atenção e cuidados voltados para todos trará vários benefícios para as cidades como bem esclareceu o vídeo publicado aqui no blog: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/licoes-de-copenhagen-para-as-cidades-brasileiras

O atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ao interferir na desocupação do terreno do Jardim Iguatemi parece tomar a iniciativa desse modelo inclusivo.

Na contramão da medida de Haddad, se colocaram o governador Alckmin no caso Pinheirinho e o governador Cabral no caso da Aldeia Maracanã.
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