Se o Brasil elegesse Lula os empresários iriam sair daqui e investir noutros países. O futuro do país estaria ameaçado irremediavelmente. Se nos lembramos bem foi este o recado transmitido pela mídia em 2002 e alardeado páginas e páginas, telas e telas de TV, regiões afora.
Essa a polarização escolhida e lançada pelos grandes meios de comunicação. De um lado o futuro do país nas mãos dos empresários, de outro o atraso, os seguidores do PT e aliados, sonhadores, que não tinham ainda governado. O pânico foi insuflado entre os eleitores. Ou se apostava no escuro, ou se seguiria uma vez mais a procissão do poder do capital e seus interesses coligados.
Lula eleito, o sonho derrotou a voz da mídia, ensaiada às custas de muitos investidores interessados, daqui e do exterior. Lula reeleito de novo quatro anos após a contragosto dos poderosos meios de comunicação de plantão. O povo em sua maioria de votantes confirma nas urnas o primeiro e único presidente brasileiro nordestino, retirante, torneiro mecânico. As elites indignadas não admitiram nunca que carne de sol substituísse baby beef.
Pois, foi esse perseguido pela mídia todo o tempo de seus oito anos de governo quem conseguiu proezas até então nem pensadas. Contrariamente aos governos anteriores, despediu-se das amarras do FMI e passou a orientar a sua própria política econômica. Sem mandantes, nem consultores enviados pelos mesmos interesses.
Pôs Lula o país na rota do crescimento outra vez a despeito da grave crise internacional que tomou conta do mundo. Países antes considerados seguros e fortes, como os Estados Unidos e os caciques da Europa, todos eles sofreram amargamente o baque com quedas na expansão econômica e nos níveis de emprego. Muitos deles seguiram a fila e se dependuraram no FMI.
O Brasil fora disso. A mídia nacional assumiu postura cínica e desavisada. Nada ou pouco a falar das conquistas dos governos de Lula e muito a falar de eventuais tropeços, mesmo que inventados por previsões espúrias de dominadores de bolas de cristal feitas nas garagens de suas casas ou nas intrincadas elucubrações saídas de seus computadores.
A polarização do embate político nasceu das páginas dos jornais, das telas de TV e dos mais nervosos radialistas e comentaristas. Nunca admitiram os governos capitaneados por Lula. Nem de sua seguidora Dilma. A mídia perdeu no voto popular, mas não se vergou à pompa e circunstância. Pau neles, o lema que comandou os noticiários, comentários e entrevistas desde a eleição de 2002!
Entra Dilma e o refresco não chega. Fizeram de tudo e por tudo para desacreditar o governo, colocá-lo em cheque, ameaçá-lo de uma intriga ou de outra. A conta não terminava. Começado em Lula e esticado em Dilma, apareceu o famigerado mensalão, alcunha dada pela mídia antagonista. Bordoada midiática por todos os lados, diariamente, de manhã, de tarde e de noite. Intrigas políticas ensopadas com interesses contrariados ensaiaram a maior polarização já vista e vivida na estória republicana do país.
Hoje a polarização criada pela mídia começa a pagar seu preço pela reprovação de entidades jurídicas e advogados notórios do país ao comandante do processo do mensalão por arbitrariedades e ilegalidades cometidas.
Uma outra das mais importantes e marcantes conquistas dos doze anos de Lula e Dilma, depois do adeus ao FMI, a queda na desigualdade de rendas, foi relegada a segundo plano pela mídia. Não se menciona. Nem a oposição fala a respeito porque permaneceu em seu papel de oposição pela oposição. Juntas, mídia e oposição, fizeram e ainda fazem de tudo para descaracterizar, desqualificar e polarizar os doze anos.
É verdade que muito do crescimento econômico tímido do Brasil nos últimos anos está nas mãos de empresários que igualmente querem virar o barco. Alimentam-se mutuamente, mídia, oposição e alguns empresários. Embora os governos de Lula e Dilma tenham facilitado sobremaneira a vida deles com linhas de crédito e financiamento e programas de investimento – veja o PAC por exemplo.
Candidato a presidente e consultores associados querem agora ir contra os aumentos do salário mínimo. O outro candidato nem programa definido tem. Quer a mídia e a oposição jogar tudo fora? O avanço social conseguido nos três governos, reconhecido apenas pela mídia e governos estrangeiros, teve sua razão mais importante nos aumentos maiores do salário mínimo em relação à inflação. Querem voltar atrás. Esta a polarização contra os mais pobres do país que as campanhas elaboram nos bastidores, mas temem jogar no ar.
E vêm agora falar de polarização exatamente porque o PT colocou no ar uma chamada eleitoral alertando para que o país não volte atrás? Este o poder sub-reptício da mídia e da oposição. Criaram a polarização e jogam-na contra o PT e seus governos! Mas a maioria dos eleitores até agora souberam discernir o joio do trigo. Com os defeitos que possam ter encontrado, o pão que saiu da forma dos doze anos ainda é saboroso e saudável.
E o cinismo continua. Boa parte da mídia irá lucrar muito com a Copa e depois com as Olimpíadas. Mas ao mesmo tempo critica a construção dos estádios, a arrumação da infraestrutura urbana, a melhoria dos aeroportos, a qualidade dos serviços. Uma no cravo, outra na ferradura.
Chamaram as primeiras manifestações de bandos de baderneiros. Hoje conclamam a importância delas contra os gastos excessivos para a realização da Copa. O baluarte da dignidade jornalística global chegou nas telas de sua TV a apontar os bandos de baderneiros das manifestações. Seu canal e repórteres passaram a ser então acuados nas coberturas. Voltou atrás dias depois para reconsiderar e falar bem dos antigos baderneiros virando a metralhadora midiática novamente contra o governo.
Se querem continuar a polarização por que não checar os números. Resultados contra resultados, estendidos na mesa ou nas telas de TV. Quem fez mais para o país em todos os tempos? Os doze anos de Lula e Dilma ou os anteriores todos juntos? O que a mídia, a oposição e os novos candidatos a presidente têm a dizer? Sem tergiversarem nem tirarem engodos de suas bolas de cristal?
José Carlos Peliano
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Polarizacao-de-quem-caras-palidas-/4/30945
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