Tudo acontece de maneira contrária aos valores e princípios estabelecidos. Há um verdadeiro terremoto moral em todas as esferas da vida pública.
Um diplomata, rompendo a hierarquia, proporciona a fuga a um político mantido no interior da Embaixada do Brasil na Bolívia. Não ouve seus superiores. Não se importa com as relações entre Estados.
Por vontade decisão próprias, proporciona uma fuga cinematográfica, desde os Andes até as planícies mato-grossenses, a um foragido da Justiça boliviana.
É inconcebível. O diplomata – cuja obrigação é aplainar conflitos – cria um contencioso indesejável entre dois países com relações de amizade profundas.
Se tanto não bastasse para conceber a estupefação geral, a Câmara Federal mostrou-se campeã dos despudoramentos em curso. Um parlamentar condenado pela mais alta Corte de Justiça, já recolhido à prisão, tem seu mandato preservado por seus pares.
Preservado seu mandato, sai do plenário da Casa legislativa diretamente para a penitenciaria. Buñuel, em seus melhores filmes, nunca imaginou cena como esta. Inusitada.
Mas, o extraordinário continuou em pauta, na semana finda. Ministro do Supremo Federal, antes de manter a condenação de um réu – parlamentar, também – profere um panegírico sem igual.
Parecia fala de um Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Antes de mandar o apenado para fogueira, suas qualidades eram ressaltadas. Depois os dois infernos: o divino e o dos homens.
Continua-se, porém, no recolhimento de situações esdrúxulas. Quando da chegada de médicos estrangeiros, alguns profissionais brasileiros mostraram-se violentamente contrários às tradições de nossa terra.
Agrediram verbalmente os visitantes. Indicaram uma xenofobia revoltante. Esqueceram a colaboração de milhões de estrangeiros que há séculos contribuem para a valorização de nossa sociedade.
Um horror. Caberia ao Conselho Regional de Medicina da unidade federada onde ocorreu o lamentável episódio pedir publicamente desculpas.
Assim, foi se desenvolvendo a última semana. Frei Vicente do Salvador, em sua célebre História do Brasil, escrita o Século XVII, apontava para fato curioso.
Aqui, nas terras tropicais, tudo se corrompe com mais facilidade. Registrou o historiador, como exemplos, a podridão dos pescados e das carnes, que em horas se “danam e se corrompem”.
Pelo visto não são apenas as carnes que se corrompem. O caráter e os valores também se desfazem rapidamente nestes trópicos de sol ardente e calor intenso.
Os quadros da República apresentam-se tênues e frágeis. As personalidades perderam-se em suas próprias palavras. Seria oportuno que todos, antes de falar, pensassem.
A sociedade, formada por pessoas que se encontram distantes do sol do Poder, se mostra cansada. É um acontecimento danoso após outro. Todos os dias.
Quando os titulares de cargos públicos compreenderão que são vistos com olhos de ver? Todos os seus atos são esmiuçados e analisados. Não são senhores absolutistas.
Devem responder por suas falas e atos perante a cidadania. Esta está exausta. Gritou e não adiantou. Saiu às ruas e foi em vão. O que querem os detentores do Poder? Levar a ansiedade a ódio?
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